Os encurralados

A construção das hidrelétricas no portentoso rio Madeira não deixou apenas encurralados os botos da Bolívia e do Brasil. Passados mais de 10 anos desde o início do barramento deste afluente do Amazonas, existem diversas pesquisas que revelam outros impactos sobre espécies de aves e peixes. Além disso, discute-se qual tem sido a influência destas grandes infraestruturas no ciclo natural de cheias e vazantes.

Áreas de inundação

Zonas inundadas

As comunidades ao longo do rio Madera têm sofrido com inundações que não foram previstas.

Durante o processo de licenciamento ambiental das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, os técnicos do agência brasileira de proteção ambiental, o Ibama, apontaram que a potencial área alagada pelos futuros reservatórios estava sendo subdimensionada. E não apenas isso: algumas das populações que seriam afetadas estavam em comunidades ribeirinhas na Bolívia. Como medida de mitigação a este risco, os projetos das represas foram adaptados para funcionarem sem a necessidade de um grande espelho da água. São as chamadas usinas a fio da água.

Essa alternativa, entretanto, não foi totalmente eficaz. Um estudo publicado em 2017 na revista científica Remote Sensing Applications: Society and Environment, por Sheila M.V. Cochrane e outros pesquisadores, revelou que área inundada foi pelo menos 64,5%, ou 341 km², maior do que originalmente previsto durante a fase de estudos. Para fazer esta comparação, os autores analisaram imagens de satélite entre 2006 e 2015. O artigo mostra ainda o preocupando dado de que, entre as áreas de inundação, 160 km² são de florestas nativas.

O grande bagre migrador

Bagre dorado

A dourada é a espécies migratórias mais afetada pelas barragens.

Entre as espécies mais afetadas pela construção das usinas de Santo Antônio e Jirau destaca-se a dourada, o peixe de água doce que realiza a maior migração jamais registrada, até 11 mil quilômetros em seu ciclo de vida. Embora as companhias já no processo de licenciamento ambiental tenham se comprometido a construir um mecanismo de transposição - a chamada “escada para peixes”, as evidências indicam que a medida não surtiu efeito. Estudos como os de Paul Van Damme e Marília Hauser mostram que, assim como as populações de botos, o grande bagre ficou isolado pelos barramentos.

A pesquisadora brasileira Carolina Doria, da Universidade de Rondônia (UNIR), afirma que os pesquisadores se sentem de “mãos atadas”. “Apesar de todos os estudos que publicamos e dos problemas que relatamos ao Ibama, não conseguimos qualquer encaminhamento”.

Aves perdem suas florestas

Pájaro

O Uirapuru laranja: não mais encontrado nas selvas do Madeira.

Para as aves da Amazônia, as várzeas e igapós são tão importantes quando os ecossistemas de terra firme. São ambientes que sofrem grandes transformações dependendo dos períodos de cheia ou vazante. Por isso, as espécies que os têm como habitat foram impactadas diretamente quando o pulso do rio foi alterado pelas barragens de Santo Antonio e Jirau.

O que ocorre é que em locais de alagamento permanente, o que era floresta se torna um cemitério de árvores, um “paliteiro”. O pesquisador brasileiro Tomaz Melo, doutorando do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) tem estudo o que representa a supressão de ambientes para diversas espécies.

Ele conta sobre o Uirapuru-laranja, uma espécie que na Amazônia vive em florestas de várzea maduras. Durante a pesquisa não se obteve nenhuma detecção nas áreas onde a floresta morreu. “O que pode indicar que toda a área alagada pelos reservatórios das usinas se tornou uma barreira para essa espécie”, diz Melo.

Redução da pesca

Pez

O Pacu - nome popular que representa uma série de espécies essenciais para alimentação

Quem também sofreu os impactos das hidrelétricas do rio Madeira foram os pescadores. Embora muitas pesquisas tenham colocado sua atenção na redução das populações de grandes bagres, algumas espécies-chave para o setor pesqueiro da Amazônia estão sumindo das redes. Nos últimos anos, estudos liderados pelo ecólogo Rangel Eduardo dos Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais, têm coletado informações junto a colônia de pescadores localizadas no rio Madeira. As entrevistas com os pescadores apontam uma redução de 39% na disponibilidade das princípais espécies comerciais, entre elas o pacu, o jaraqui e a branquinha.




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